Crise também se abateu sobre o setor; muitos estão abandonando a ocupação

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
O setor já era informal. Com a crise que se abateu sobre todos os setores da economia, a informalidade não permite mensuração, mas o sinal de alerta já foi soado: os catadores de lixo reciclável estão em escassez. O preço pago pelo lixo reciclável, que já não era dos mais satisfatórios, rendendo cerca de R$ 2 por um dia bem trabalhado, despencou nos últimos meses fazendo dezenas deixarem o setor ou reduzirem o ritmo de trabalho. A queda não é culpa das empresas de revenda, que fazem a ponte entre os catadores e os recicladores. A indústria está produzindo menos e, por isso, investindo menos no processo de reciclagem que, em geral, é mais caro. Quando compra, paga pouco aos revendedores que, consequentemente, repassam o arrocho aos catadores. A proprietária de uma dessas revendas, de Canoinhas, conta que os catadores têm reclamado dos preços baixos, mas a maioria ainda persiste no setor.
Há quem garanta, no entanto, que as revendedoras estão optando por recolher o lixo elas mesmas, provocando a crise no setor que estaria atingindo somente os pequenos catadores. Uma das revendedoras afirma que sempre manteve a coleta própria de lixo em lojas e supermercados, assim como nunca deixou de comprar de catadores.
 
FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS SUFOCA SETOR
 
O jardim da casa de Pedro e Tereza Kunvendler está tomado por garrafas PET, ferro e papelão. Moradores do loteamento Jardim Santa Cruz, é ali mesmo que eles depositam o lixo reciclável que catam de casa em casa com a ajuda de um carrinho, classificam e vendem para revendedoras. Segundo a prefeitura de Canoinhas, há pelo menos 120 famílias que catam lixo reciclável na cidade, mas o dado não é oficial nem atualizado. Levantamento de 2007 cadastrou todas as famílias do município interessadas em participar de uma associação municipal. A associação foi fundada, mas nunca concretizada. Isso porque nunca houve uma estrutura física, fundamental para que os catadores pudessem fazer a triagem do material arrecadado. A ideia de que a união faz a força visava garantir preços mais justos. “Nossa situação cada dia pior. O preço feio e vai piorar”, prevê Tereza. Ela e o marido moram com uma filha e duas netas. Depois que os preços do lixo caíram, Pedro tenta complementar a renda, que já era magra, com serviços gerais. “Ele já com 57 anos, não consegue emprego com carteira assinada”, lamenta Tereza, que aos 63 anos sonha com a aposentadoria. Um erro na grafia do seu sobrenome no CPF, no entanto, tornou o processo ainda mais burocrático. Tereza conta que com o dinheiro da venda do lixo hoje, não consegue nem pagar a conta de luz, que chega a R$ 70. “ lavando roupa no muque, pra economizar com a máquina, mas as minhas costas não ajudam”, queixa-se.
 
PREVISÃO
 
A Câmara de Vereadores de Canoinhas aprovou no orçamento deste ano a previsão de R$ 50 mil para a construção de um barracão que seria doado a Associação de Catadores de Lixo, criada em 2007. A Rigesa chegou a doar o telhado, mas por enquanto não há nenhuma sinalização por parte da prefeitura no sentido de dar início a obra que deve ser construída no bairro Salto d’Água Verde.
Mesmo que a associação ganhe uma sede, no entanto, a prefeitura terá dificuldades para reunir os catadores. Além dos preços terem caído, os catadores têm tido dificuldade para encontrar compradores. “ ficando cada vez mais difícil”, resume Tereza prevendo um futuro nada promissor.
O pior de tudo é que a falta de catadores pode se tornar um fator decisivo para enterrar de vez o já fraco processo de separação seletiva do lixo na região, já que a coleta seletiva só é feita pela empresa Serrana no interior de Canoinhas e centro de Três Barras. O lixo reciclável que os canoinhenses separam só ganha este destino se os catadores autônomos não deixarem de recolhê-lo.