Acordo UE-Mercosul será assinado mesmo com oposição francesa, diz Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (20) que a assinatura do aguardado acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, bloco formado por Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai, que estava previsto para ocorrer hoje, foi adiado, a princípio, para janeiro.
A declaração ocorreu durante discurso de abertura da Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu. O encontro marca o fim da presidência brasileira do bloco, que agora passará ao Paraguai, ao longo do próximo semestre.
O encontro deste sábado era também a data escolhida pelos líderes europeus para que a assinatura do acordo fosse sacramentada.
"Tínhamos em nossas mãos a oportunidade de transmitir ao mundo mensagem importante em defesa do multilateralismo e de fortalecer nossa posição estratégica em um cenário global cada vez mais competitivo. Mas, infelizmente, a Europa ainda não se decidiu. Líderes europeus pediram mais tempo para discutir medidas adicionais de proteção agrícola", informou Lula.
Segundo ele, a expectativa agora é de que o acordo seja assinado em janeiro:
"Recebi ontem dos presidentes da Comissão Europeia [Ursula von der Leyen] e do Conselho Europeu [António Costa] carta em que ambos manifestam expectativa de ver o acordo aprovado em janeiro."
Tanto Ursula von der Leyen quanto António Costa pediram que a Cúpula do Mercosul ocorresse justamente neste sábado, quando eles estariam presentes, segundo Lula, mesmo diante da conhecida posição da França contrária ao acordo comercial, por temer perda de competitividade no setor agrícola.
O presidente voltou a dizer que o adiamento, no entanto, ocorreu em função de um problema com o governo da Itália, por conta de questões internas da União Europeia sobre distribuição de verbas para a agricultura, e não uma oposição ao acordo com o Mercosul em si.
Lula falou sobre uma conversa telefônica que manteve com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, sobre essa questão, e disse os europeus estão comprometidos com o acordo mesmo diante da contrariedade da França.
"Eu tive uma conversa por telefone com ela [Giorgia Meloni]. Ela disse textualmente que no começo de janeiro ela estará pronta para assinar. Se ela estiver pronta para assinar e faltar só a França, segundo a Ursula von der Leyen e o Antonio Costa, não haverá possibilidade de a França, sozinha, não permitir o acordo. O acordo será firmado e eu espero que seja assinado, quem sabe, no primeiro mês da presidência do Paraguai, pelo companheiro Santiago Peña [presidente paraguaio]."
Histórico
Negociado há 26 anos, o acordo UE-Mercosul envolve um mercado de 722 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22 trilhões e, quando assinado, será um dos maiores tratados de livre comércio do planeta.
Em 2019, foram anunciados os termos gerais do acordo, iniciado em 1999. E, no ano passado, em Montevidéu, no Uruguai, foi fechado um acordo de parceria, a partir do qual os textos do tratado comercial em si pudessem ser elaborados para posterior assinatura final.
Outras parcerias
Em seu discurso na abertura da cúpula deste sábado, Lula afirmou que o Mercosul seguirá empenhado em expandir os acordos comerciais com outros parceiros.
Ele citou, por exemplo, o acordo com Associação Europeia de Livre Comércio, a EFTA, um conjunto de países que soma um PIB de quase um trilhão e meio de dólares.
No último semestre, foi iniciada discussão sobre a ampliação do acordo com a Índia, avanços das negociações com os Emirados Árabes Unidos e retomadas as tratativas com o Canadá.
Também está sobre a mesa uma negociação de parceria estratégica com o Japão e um acordo de preferências tarifárias com o Vietnã.
Lula também destacou a necessidade de ampliar o comércio regional entre os país latino-americanos.
"Na região, esperamos progredir rapidamente na negociação de um acordo com o Panamá. Precisamos ainda atualizar os acordos com outros países sul-americanos, como Colômbia e Equador. O comércio intrarregional na América do Sul está muito aquém de seu potencial. Corresponde a apenas 15% do fluxo comercial, enquanto, na Ásia e na Europa, é de cerca de 60%. A inclusão dos setores sucroalcooleiro e automotivo nas regras do Mercosul pode contribuir para mudar esse quadro."
Texto ampliado às 12h10
