O fotógrafo fez a imagem quando estava de férias na casa da mãe, no centro de Porto Alegre. Era um dia de domingo há exatos 15 anos (23 de agosto), quando Paulo Pinto decidiu sair para fotografar “alguma coisa” após um churrasco em família.
A mãe mostrou ao filho o bando de passarinhos chupins que se aglutinava nos fios dos postes de energia todas as tardes diante da residência no outro lado da rua, à espera da comida habitualmente servida pelo vizinho às pequenas aves visitantes.
“Minha ideia era fotografar com a máquina no chão, para pegar aqueles passarinhos se alimentando e dar a sensação de que eles eram maiores. Eu fiz isso. Só que quando eu olhei pra cima, nos fios, estava aquele montão de passarinhos esperando a sua vez de comer”, recorda-se o fotógrafo. Ele fez várias fotos dessa posição e reparou nos pássaros distribuídos nos fios como em uma pauta musical: “mas que estranho, parece uma partitura aquilo ali.”
Jarbas Agnell pensou a mesma coisa quando viu a foto no jornal enquanto tomava café da manhã no dia seguinte. Imediatamente, ele saiu da mesa para o piano para tirar “a música” composta pelos chupins porto-alegrenses. “Na hora, eu parei o café. Peguei uma tesoura, cortei a foto e fui para o piano. Eu senti vontade de tentar tocar aquela foto.”
Na transposição da imagem ao som, o músico tomou “algumas liberdades artísticas”, como interpretar que os passarinhos nos fios dos postes equivaliam às notas fá, lá, dó, mi e sol e definir, a partir das posições das aves nos fios, a duração das notas. “Quando eu vi que tinha uma melodia interessante lá, eu fiz um arranjo orquestral”, recorda-se.
A música extraída da foto publicada tinha um minuto de duração. Jarbas Agnelli entrou em contato com o fotógrafo. Ao ouvir o som, Paulo Pinto pensou “ele olhou o que eu olhei também. Só que eu olhei fotograficamente e ele olhou musicalmente”.
A história da música dos passarinhos ganhou as páginas do Estadão, virou pauta de outras reportagens nacionais e tornou-se conhecida no exterior com entrevistas de Agnelli à rede de rádios públicas dos Estados Unidos (NPR) e à Companhia de Radiodifusão do Japão (NHK). O vídeo feito da execução da música foi publicado nas redes sociais, e foi premiado como um dos 20 mais interessantes vistos no YouTube naquele ano.
A foto da música de Paulo Pinto e a música da foto de Jarbas Agnelli são “sinestesias”. Palavra de origem grega para descrever a percepção simultânea de sentidos diferentes como a visão que leva a audição, ou o som que forma uma imagem.
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