Exposição em São Paulo aborda política sobre drogas na América Latina

Por Letycia Bond Repórter da Agência Brasil

Exposição em São Paulo aborda política sobre drogas na América Latina

A Ocupação Matilha Cultural, na capital paulista, recebe a mostra Reformar políticas de drogas, Restaurar direitos e Recuperar natureza, que tem por objetivo instigar o público a reconhecer a relação entre pautas ambientais e aquelas relacionadas aos narcóticos, à segurança pública, ao racismo e à arte.

Concebida no âmbito do projeto Intersecção, a instalação fica aberta ao público até 22 de novembro e tem curadoria da VIST Projects, com parceria da Matilha Cultural.

O Intersecção é articulado pela Iniciativa Negra e a Coalizão Internacional pela Reforma da Política de Drogas e Justiça Ambiental e consiste na promoção de conversas sobre problemas que afetam toda a população, mas atingem especialmente os grupos minorizados, como mulheres, LGBTQIA+, negros, indígenas e pessoas com deficiência.

A programação conta com uma exposição fotográfica sobre a Cracolândia, região da capital paulista que ficou conhecida por conta da quantidade de usuários de drogas, e sessões de cinema no Cine Matilha, com a exibição de filmes relacionados aos temas da mostra.

>> Siga o canal da Agência Brasil no WhatsApp

As fotos são do mexicano Yael Martinéz e do brasileiro Rafael Vilela, ganhador do POY-Latam 2025, importante premiação de fotografia documental.

Além disso, o público poderá participar de rodas de conversa com especialistas e estudiosos, oficinas e debates.

Ao apresentar arquétipos dos locais onde se produz e se consome a cocaína na América Latina, os coletivos propõem que os visitantes saiam do centro cultural com mais esclarecimento sobre o que está em cena, atualmente.

Um dos ganchos é a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre em novembro, em Belém. Para garantir representatividade diante de tamanha complexidade,  a curadoria chegou a dez arquétipos.

São dez relatos de personagens de diferentes contextos e lugares ao longo das regiões que integram a cadeia de valor da coca e da cocaína na América Latina: uma planta de coca; uma coletora de coca afroboliviana; uma defensora de terras indígenas; o Rio Amazonas; uma pessoa que trabalha em um laboratório de cocaína; uma ribeirinha; a onça-pintada; um vendedor de drogas; um usuário de cocaína e uma fiscal da autoridade portuária.

Na segurança pública, um dos principais desafios da atualidade são as facções, que enriqueceram com o tráfico de drogas ilícitas. A América do Sul atrai narcotraficantes, por ser a região que abastece a produção mundial da droga. 

"É como se as facções brotassem do nada. A gente sabe que elas se capitalizaram muito em cima das drogas proibidas", afirma a militante Rebeca Lerer, que é coordenadora do Intersecção e representante latino-americana em uma coalizão que propõe a reforma das políticas sobre drogas International Coalition on Drug Policy Reform and Environmental Justice.

Para Lerer, algumas pontas dessas temáticas ainda ficam soltas, o que impede o país de avançar.

"Acho que tem muito trabalho acadêmico que diagnostica os sintomas, os efeitos, as consequências: o encarceramento, a violência policial, a corrupção de agentes públicos, mas não foca nas causas. E uma das causas é a política de proibição, que, nitidamente, só tem como principal resultado esse mercado transnacional armado e extremamente poderoso, cada dia mais", diz. 

"Nosso trabalho é tentar mudar o eixo para essa discussão, sair desse debate de 'se usar droga é bom ou ruim', 'se é certo ou errado', porque para isso cada um pode ter sua opinião, mas isso não muda o fato de que essa política não está funcionando. Nem para proteger as pessoas, nem para proteger as instituições, os territórios, nem para impedir que esse dinheiro sirva para fortalecer essas organizações criminosas."

Programação

Inaugurada em 23 de setembro, a mostra também terá apresentações de diversos artistas como o rapper Dexter, o grupo Pagode na Lata; Linn da Quebrada, Família Tamarineira, DJ KL Jay, Ti.ram.ba.ço e a banda Aláfia.

A jornalista Cecília Olliveira vai lançar seu livro Como nasce um Miliciano, no dia 1º de novembro, às 19h.

Para conferir a programação completa e retirar os ingressos gratuitos para as atividades, clique aqui

Para as atividades realizadas no espaço do Cine Matilha, a retirada de ingressos será por ordem de chegada.

Serviço

Mostra Reformar - políticas de drogas, Restaurar - direitos e Recuperar - natureza
Até 22 de novembro das 14h às 20h, de terça a domingo
Visitas monitoradas: das 14h às 20h, de terça a sábado
Matilha Cultural | Rua Rêgo Freitas, 542 - República 
Ingressos: via Sympla
Entrada gratuita
Menores de 18 anos devem estar acompanhados de um responsável.
Acessibilidade para pessoas com locomoção restrita.