Proteção de adolescentes desafia conselhos tutelares após megaoperação

Por Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil

Proteção de adolescentes desafia conselhos tutelares após megaoperação

Os dez adolescentes apreendidos durante a operação policial contra a facção criminosa Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro, em 28 de outubro, assim como suas famílias, serão acompanhados de perto pelos conselhos tutelares da região, orgãos de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. 

Depois da megaoperação que terminou com 121 pessoas mortas, o colegiado, com apoio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, quer proteger os jovens tanto de execução por queima de arquivo, quanto do aliciamento pelo tráfico de drogas.

Os adolescentes apreendidos devem ser submetidos a audiências de custódia ao final desta semana, para avaliar a legalidade da apreensão. Atualmente, os dez estão em unidade socioeducativa na Ilha do Governador, na zona norte do Rio. 

Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, várias estratégias para proteger esses adolescentes estão em discussão, incluindo a inclusão deles no Programa de Proteção à Criança e Adolescente Ameaçados de Morte (PPCAM), do governo federal, e que está em fase de acerto final com o governo do Rio. A intenção é garantir a inscrição de forma imediata, após as audiências.

A estratégia de acompanhar os jovens apreendidos partiu de um encontro de conselheiros tutelares dos bairros de Inhaúma e Ramos, região que atende aos complexos de favelas em que ocorreu a Operação Contenção, com órgãos de defesa dos direitos humanos do governo federal. 

Na reunião, foram estabelecidas três medidas para lidar com a situação das crianças e adolescentes afetados pela operação, incluindo aqueles que foram apreendidos pela polícia. A primeira delas é fortalecer os conselheiros, como forma de apoiá-los a realizar o trabalho legal.

A segunda é registrar e amparar, com atendimento médico e psicológico, aqueles que foram diretamente impactados no dia da operação policial, assim como avaliar ajudar as famílias que perderam seus provedores, mortos ou presos. 

Por fim, a terceira medida será acompanhar os dez adolescentes apreendidos e suas famílias. Pelo fato de a maioria não ter antecedentes criminais, existe a possibilidade de alguns aguardarem julgamento em regime de semiliberdade ou liberdade assistida, e não em unidade socioeducativa, explicou a coordenadora-geral do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e do Meio Aberto da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDC), Lívia Vidal.

Vamos acompanhar as audiências para ver como serão aplicadas as medidas socioeducativas, informou a coordenadora. Não ficando internados, a gente precisa que esses adolescentes estejam resguardados e protegidos, para não serem colocados em situação de ameaça ou de testemunha sem amparo da Defensoria Pública ou da comunidade, completou.

Lívia explicou que, considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente, a ressocialização, no caso dos adolescentes, é mais mais eficaz no meio aberto, onde esse jovem pode ser fortalecido pela comunidade e pela escola. 

 

Moradores, familiares e representantes da sociedade civil se reúnem na comunidade da Vila Cruzeiro para manifestação de repúdio à Operação Contenção que deixou 121 mortos. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

"Usaram nossa janela para ficar atirando"

A lista de pessoas assassinadas evidencia a letalidade de jovens, sendo que um em cada três tinha até 25 anos e era preta ou parda, diz o documento.

A Ouvidoria acrescenta no texto que o perfil das vítimas expostas em praça pública tinha também traços do estilo da juventude de comunidades, como cabelos pintados de vermelho ou branco. Isso mostra, efetivamente, um claro crime de racismo e de ódio, levando em conta que essa é a marca da juventude negra periférica, diz o documento.