Projeto usa robótica para reintegrar jovens privados de liberdade
Sawabona. Estudante de análise e desenvolvimento de sistemas, Daniel Messias explica o que quer dizer a saudação para o povo zulu: Eu te vejo, você é importante e obrigado por você existir. A palavra traduz a filosofia da etnia do Sul do continente africano que escolhe lembrar as qualidades e os valores em vez de punir as pessoas pelos seus erros.
Ao se reconectar com sua essência, a pessoa pode responder shikoba. Eu existo e eu sou bom para você, completa Messias.
A cultura sawabona-shikoba também ajuda a explicar o que norteia a pesquisa de Messias no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar). Ele ensina robótica para jovens privados de liberdade na capital pernambucana.
A educação precisa ser restaurativa. Resgatar as pessoas não pelo erro, mas pelas qualidades, defende o pesquisador, enquanto mostra o robô seguidor de linha (que navega ao longo de uma marcação) desenvolvido pela turma de jovens egressos das unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo de Pernambuco (Funase).
Para Messias, esses são princípios que podem ajudar o país a encontrar soluções para a reintegração de pessoas privadas de liberdade, hoje centradas no que ele chama de necropolítica. O termo cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe se refere a uma espécie de licença para matar pessoas que fazem parte de alguns grupos sociais, como jovens negros. Não necessariamente uma política de matar fisicamente. É também uma política de matar narrativas, sonhos, perspectivas e possibilidades, explica.
