Com cerca de 500 mil pessoas, Marcha das Mulheres Negras toma Brasília

Por Daniella Almeida - Repórter da Agência Brasil

Com cerca de 500 mil pessoas, Marcha das Mulheres Negras toma Brasília

Uma enorme mulher negra inflável, de 14 metros, com uma faixa presidencial onde se lê Mulheres Negras Decidem foi o ponto de partida de centenas de caravanas que integraram a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver, nessa quinta-feira (25), rumo à Esplanada dos Ministérios. A estimativa é de que cerca de 500 mil pessoas ocuparam as laterais do gramado da área central de Brasília.

Cláudia Vieira, representante do Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras, responsável pela organização do movimento, explicou que não foi fácil chegar até esse dia e quer que a marcha deixe um legado. A partir desse mosaico, a gente apresenta para o país, para o mundo e para o Estado brasileiro, para que entendam, de uma vez por todas, que é importante, necessário, é dever e direito olhar para a população negra.

Segunda Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver reúne cerca de 500 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios - Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Nós, mulheres negras, não merecemos ficar o tempo inteiro no final da fila e sermos tratadas, nessa sociedade, como segmento que pode esperar, que tudo para a gente fique para depois. Temos pressa, temos urgência!" 

Pelo governo federal, a ministra da Igualdade Racial (MIR), Anielle Franco, chegou à marcha cercada, de um lado, pela deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), do outro pela também deputada Benedita da Silva (PT-RJ), exaltada por ser a primeira mulher negra a se tornar deputada federal (1987) e também senadora (1995) no Brasil.

A deputada Benedita da Silva, durante sessão solene em homenagem à Marcha das Mulheres Negras - Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Do alto de um dos carros de som, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, declarou que a presença do ministério simbolizava uma ponte entre movimento e Estado.

Permaneceremos avançando, marchando por bem-viver e por reparação. Por todas as mães que perderam seus filhos e por todas aquelas que vieram antes de nós. Seguimos juntas em marcha, na positividade, hoje e sempre.

Do luto à luta

Durante o ato, a ministra lembrou da irmã, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2000 junto com o motorista dela, Anderson Gomes. Uma das palavras de ordem era Marielle, presente. Marielle vive.

O Instituto Marielle Franco esteve presente na Marcha Nacional das Mulheres Negras. A filha de Marielle, Luyara Franco, diretora executiva do instituto, reafirmou que não há democracia sem mulheres negras.

"Cada passo que damos aqui carrega a força de todas as mulheres negras que nos antecederam. Essa marcha é o nosso grito coletivo por justiça e dignidade, a prova viva de que a memória da minha mãe segue florescendo em cada uma de nós.

A mãe de Anielle e Marielle, avó de Luyara e cofundadora do Instituto Marielle Franco, a advogada Marinete Silva, afirmou que marchar hoje é dizer ao Brasil que esse segmento não aceita mais ser silenciado.

 Cada mulher negra aqui reivindica o direito de viver sem medo, de ter seu luto respeitado e sua voz reconhecida. Democracia só existe quando nossas vidas importam.

Violência de corpos negros

A dor das mulheres dessa família é compartilhada por outras mulheres negras. Um tapete, com incontáveis fotos de vítimas da violência em favelas do Rio de Janeiro nos últimos anos, ocupou metros do chão da concentração da marcha. Cada rosto uma história, um caso de violência.