O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou nesta ter que antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para as próximas reuniões, após elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 15,00% ao ano. Apesar disso, já adiantou que não hesitará em mudar de ideia e continuar com o aperto monetário caso avalie, no encontro de julho, que será a decisão mais adequada.

A decisão sobre a pausa, de acordo com o comunicado divulgado, se dará para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados. Assim, conforme a cúpula do BC, será possível avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta.

"O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado", ponderou.

A decisão ficou acima da mediana das expectativas do mercado financeiro pela primeira vez desde outubro de 2021, já que a maior parte dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast previa a manutenção da taxa hoje.

Segundo o BC, a escolha por mais uma alta é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. "Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", trouxe o documento.

Projeção de IPCA 2026, horizonte relevante da política monetária, segue em 3,6%

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a sua projeção para a inflação acumulada em 12 meses até o fim de 2026, horizonte relevante da política monetária. A estimativa seguiu em 3,6% no cenário de referência, distanciando-se do teto da meta, de 4,50%.

Apesar da redução, a estimativa ainda indica que a trajetória da taxa Selic embutida no relatório Focus - com juros em 14,75% até o fim deste ano, e caindo a 12,50% no fim do ano que vem - seria insuficiente para fazer a inflação convergir ao centro da meta, de 3%, no período de seis trimestres observado pelo Banco Central (BC).

Nesta quarta-feira, o Copom aumentou a Selic em 0,25 ponto porcentual, de 14,75% para 15,0%, em decisão unânime. A decisão era esperada por 21 das 48 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast. A mediana do relatório Focus apontava para manutenção da taxa.

Ao justificar a decisão, o colegiado disse entender que esse patamar é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante, garantindo estabilidade de preços e suavizando flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

"Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado". diz o comunicado.

Desde a última reunião, de janeiro, a cotação do dólar usada pelo comitê nas suas projeções caiu de R$ 5,70 para R$ 5,60. As medianas do Focus para o IPCA de 2025 e 2026 passaram de 5,53% para 5,25%, e de 4,51% para 4,50%, respectivamente. Os preços do petróleo aumentaram.

A projeção do Copom para o IPCA acumulado em 2025 passou de 4,8% para 4,9%, também acima do teto da meta, de 4,50%.

Todas as estimativas levam em conta a evolução da taxa de câmbio conforme a paridade do poder de compra (PPC), a trajetória de Selic embutida no relatório Focus e o preço do petróleo seguindo a curva futura por aproximadamente seis meses, passando a aumentar 2% ao ano posteriormente.

Também nesse cenário de referência, o Copom ajustou as suas projeções para a inflação de preços livres em 2025 (5,3% para 5,2%) e manteve a projeção de 2026 (3,4%). A projeção para os preços administrados passou de 3,5% para 3,8% este ano e de 4,0% para 4,1% no horizonte relevante.

Juros reais

Com a elevação de 0,25 ponto na Selic, o Brasil passa a ter a segunda maior taxa real de juros do mundo, com 9,53%, segundo ranking do site MoneYou. O País está atrás apenas da Turquia, com 14,44%, e à frente de Rússia (7,63%), Argentina (6,70%) e África do Sul (5,54%).

O BC calcula que a taxa real neutra de juros do Brasil - que não estimula, nem deprime a economia - é de 5,0%.

Exterior segue adverso e incerto principalmente com EUA

O Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou que o ambiente externo segue adverso e particularmente incerto, sobretudo por causa da conjuntura econômica e política dos Estados Unidos, com as mudanças na política comercial e fiscal. A justificativa está no comunicado do colegiado para justificar a elevação da Selic em 0,25 ponto porcentual, de 14,75% ao ano para 15% a.a..

"Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica", diz o comunicado.

O colegiado ainda avaliou que, considerando o cenário doméstico, o conjunto de indicadores de atividade e mercado de trabalho segue apresentando algum dinamismo, mas houve moderação no crescimento. "Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação", diz.

Balanço de riscos para a inflação como simétrico ou assimétrico

O Comitê de Política Monetária (Copom) optou, mais uma vez, por não informar no comunicado da sua decisão se considera o balanço de riscos para a inflação como simétrico ou assimétrico.

"Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual", diz o comunicado do Copom, que decidiu nesta quarta-feira aumentar a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, de 14,75% para 15,0% ao ano.

O trecho do comunicado que trata sobre o balanço de riscos foi igual ao do último ciclo de comunicações. O comitê citou os mesmos três riscos para cima e três riscos para baixo.

Entre os riscos para cima, o Copom citou a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; uma maior resiliência da inflação de serviços, por causa de um hiato do produto mais positivo; e um conjunto de políticas econômicas interna e externa com impacto inflacionário - por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio mais depreciada persistentemente.

Nos riscos de baixa, voltou a mencionar uma eventual desaceleração da economia doméstica maior do que a esperada; uma desaceleração global mais pronunciada, por causa do choque de comércio externo e da maior incerteza; e uma redução dos preços de commodities, com impacto desinflacionário.

Patamar de juros

Será necessário manter a taxa de juros em um nível "significativamente contracionista" por um período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta, considerando a desancoragem das expectativas. Essa é a avaliação atual do Copom sobre o patamar de juros.

"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho", destacou o colegiado. "O comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros", acrescentou.

O BC aumentou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, de 14,75% para 15,00% - um resultado acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, que apontava maior chance de estabilidade. No comunicado, o comitê informou que antecipa uma interrupção no ciclo de alta, para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado.