Após subir 0,50% ontem e ultrapassar a barreira de R$ 5,45, o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 2, em queda firme e voltou a fechar na casa de R$ 5,42, nos menores níveis desde agosto. Operadores não identificam um gatilho específico para a apreciação do real, mas ressaltam que as divisas latino-americanas, à exceção do peso mexicano, ganharam terreno com a alta do minério de ferro e do petróleo. Dados fracos do mercado de trabalho americano também podem ter dado impulso a divisas da região, ao sugerir mais espaço para corte de juros nos EUA neste ano.

Outro ponto que pode estar por trás do fôlego extra da moeda brasileira é a perspectiva de manutenção da taxa Selic em 15% por um "período bastante prolongado", reforçada hoje pela fala do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, em evento no Citi. Além de desencorajar o carregamento de posições em dólar, os juros altos aumentam a atratividade das operações de carry trade.

Afora uma alta pontual no início dos negócios, quando registrou máxima a R$ 5,4812, o dólar trabalhou em baixa no restante do pregão. Com mínima a R$ 5,4162 na última hora do pregão, a moeda americana fechou em queda de 0,75%, a R$ 5,4202 - no menor valor desde 19 de agosto (R$ 5,4120).

"Continuamos vendo ingresso de recursos para aproveitar o nosso juro real elevado, de quase 10%. Parece que a disputa jurídica entre governo e Congresso não assusta os investidores estrangeiros", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, em referência ao fato de o governo Lula ter recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o decreto legislativo que derrubou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Segundo apuração do Broadcast, ministros do STF veem a abertura de canais de diálogo para uma conciliação entre Executivo e Legislativo como uma boa saída para o impasse envolvendo o IOF. A ação do governo é relatada pelo ministro Alexandre de Moraes, que deve pedir informações às partes nos próximos dias. Cabe a ele proferir uma liminar para suspender o ato legislativo ou, ainda, submeter o processo à conciliação entre as partes.

Para Galhardo, da Treviso, se não houver aumento dos ruídos políticos locais com a queda de braço entre governo e Congresso, é possível que o real experimente nova rodada de apreciação, com a taxa de câmbio descendo até R$ 5,30, diante da tendência de enfraquecimento global da moeda americana. "Se houvesse confiança de que o governo está realmente comprometido com o equilíbrio das contas públicas, poderíamos ter um dólar mais perto de R$ 5,00".

Com exclusividade ao Broadcast, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje à tarde que a equipe econômica depende do decreto do IOF para garantir o cumprimento da meta fiscal do ano que vem, de superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB).

A gestora de recursos Ibiuna Investimentos afirma que, além dos "ventos globais favoráveis", dois fatores ajudaram o real nos últimos meses: a elevação da Selic para 15% - que "elevou o diferencial de juros e aumentou sobremaneira a atratividade das operações de carrego" - e a mudança do ambiente político, "com aumento da probabilidade de alternância do poder e, portanto, da política econômica, nas eleições de 2026". A gestora mantém aposta em enfraquecimento do dólar com posições em euro, peso mexicano e real.

O diretor de Política Monetária do Banco Central reiterou hoje, em evento do Citi, que o regime é de câmbio flutuante e que o BC intervém apenas em caso de disfuncionalidades no mercado. O destino da taxa de câmbio, segundo David, está mais relacionado ao comportamento da moeda americana no exterior "do que com o real".

Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - apresentava ligeira queda no fim do dia, na casa dos 96,700 pontos. Na semana, o Dollar Index cai cerca de 0,50%. Pela manhã, relatório da ADP mostrou eliminação de 33 mil vagas no setor privado americano em junho, quando a expectativa era de geração de 115 mil postos.

Investidores aguardam a divulgação, amanhã, do relatório de emprego (payroll) de junho para calibrar as apostas para os próximos passos do Federal Reserve. Ontem o presidente do Fed, Jerome Powell, não descartou a possibilidade de corte de juros já no encontro de política monetária do banco em julho, embora tenha alertado para as incertezas e o impacto inflacionário provocados pelo tarifaço de Trump.