Já em queda pela manhã desta terça, 8, o dólar aprofundou o ritmo de baixa no mercado local ao longo da tarde, em sintonia com a perda de força da moeda americana no exterior, em especial na comparação com o euro e as divisas latino-americanas pares do real.

Após o estresse desta segunda, 7, com anúncio de tarifas recíprocas dos EUA entre 20% e 40% para 14 países, incluindo Japão, Coreia do Sul e África do Sul, investidores voltaram a mostrar apetite por moedas emergentes, em dia de recuperação, embora modesta, dos preços do petróleo e do minério de ferro.

Com mínima a R$ 5,4357, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 8, em baixa de 0,58%, a R$ 5,4458. A despeito do escorregão de hoje, a moeda ainda apresenta valorização neste início de mês (0,39%). As perdas acumuladas no ano são de 11,88%.

"Ontem, tivemos uma tensão pontual por conta do anúncio das tarifas e a resposta de Trump a declarações do governo brasileiro na cúpula dos Brics, com ameaça de sobretaxa de 10% a países e aliados do bloco. Hoje, já vemos uma devolução de parte desse movimento, com o real retomando sua tendência de valorização com menos temor em relação ao impacto do aumento de tarifas pelos EUA", afirma o economista Rafael Prado, da GO Associados.

Além de o presidente americano, Donald Trump, esclarecer que as tarifas anunciadas ontem passam a valer a partir de 1º de agosto, o que abre espaço para negociações, há sinais de entendimento dos EUA com parceiros comerciais relevantes.

À tarde, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disse que o governo americano está em "posição muito boa" nas conversas com a China, que devem se intensificar no começo do ano que vem. Ele também disse que a União Europeia fez "ofertas reais", que já estão na mesa de Trump.

Por outro lado, Lutnick informou que Trump deve enviar entre 15 a 20 cartas nos próximos dias a parceiros comerciais com tarifas a que estarão sujeitos. Já a tarifa de 50% sobre importações de cobre devem entrar em vigor entre o fim deste mês e 1º de agosto. O presidente dos EUA disse que pode anunciar tarifas para farmacêuticos e chips.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY, que atingiu 97,838 pontos na máxima pela manhã, praticamente zerou os ganhos à tarde, rondando os 97,500 pontos. No ano, o Dollar Index ainda acumula baixa de dois dígitos. Divisas latino-americanas pares do real, como peso mexicano e chileno, trocaram de sinal e passaram a se apreciar, enquanto o rand sul-africano acelerou os ganhos.

Prado, da GO Associados, diz que apesar de aumento da aversão ao risco, a tendência de enfraquecimento global da moeda americana deve continuar nos próximos meses, dada a fragilidade crescente dos Estados Unidos e o próprio interesse do governo Trump em torno de um dólar mais fraco para reduzir o déficit comercial. Além disso, o Federal Reserve provavelmente entregará dois ou três cortes de juros neste ano, diminuindo a atratividade do dólar.

"A desvalorização global do dólar e o diferencial de juros interno e externo, que deve aumentar com o corte de juros pelo Fed, podem levar o real a se apreciar ainda mais no curto prazo", afirma Prado, ressaltando que os riscos fiscais domésticos já são conhecidos e permanecem, por ora, em segundo plano. "Temos no nosso cenário mais otimista uma taxa de câmbio de R$ 5,35. A projeção para o fim do ano é de R$ 5,65."

À tarde, em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou esperar que o Congresso e o governo consigam superar o impasse em torno do aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu decretos relacionados ao IOF e marcou uma reunião de conciliação para a próxima terça-feira, 15 de julho.