O impacto das populações envelhecidas ameaça o motor do crescimento econômico dos países, que depende de recursos humanos para produzir resultados, de acordo com um novo relatório de Perspectivas de Emprego da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado nesta quarta-feira. Segundo o cartel, isso coloca a economia dos países em uma nova era, onde o desafio se desloca de uma escassez de empregos para uma escassez de trabalhadores.
"Exatamente como esse novo tipo de economia global se desenrolará não está claro. É um momento desconcertante com indicadores aparentemente contraditórios. À medida que o número de pessoas em idade ativa estagna na OCDE, empregos estão ficando vagos mesmo enquanto pessoas perdem trabalho e os salários mal acompanham a inflação", explica.
De acordo com o documento, na zona do euro, por exemplo, uma em cada seis empresas na indústria e uma em cada quatro empresas nos serviços citaram a falta de mão de obra como um dos fatores que limitam a produção, em abril de 2025. Os números, porém, estão abaixo dos picos pós-pandemia de covid-19, quando cerca de uma em cada quatro na indústria e uma em cada três nos serviços se queixavam do problema.
"A persistência de escassez de mão de obra apesar da desaceleração do crescimento pode ser uma prévia desorientadora dos tempos que virão", avalia a OCDE. Para a organização, junto aos tópicos de mudança climática e revolução digital, o envelhecimento das economias da OCDE é a terceira, "e o que podemos chamar de 'esquecida', megatendência que requer a total atenção dos formuladores de políticas", ressalta.
Dentre possíveis soluções, a OCDE destaca a importância de mobilizar jovens, mulheres e migrantes, empoderar trabalhadores mais velhos, acompanhar do desdobramentos da inteligência artificial (IA) e "fazer tudo o que estiver ao alcance".
Mercado de trabalho
O mercado de trabalho em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) continuam a mostrar resiliência, mas há sinais de enfraquecimento, de acordo com um novo relatório de Perspectivas de Emprego do cartel, publicado nesta quarta-feira. Segundo o documento, no entanto, o emprego e a participação na força de trabalho atingiram níveis recordes, enquanto o desemprego permanece historicamente baixo.
"Há sinais de enfraquecimento dos mercados de trabalho, com o crescimento do emprego desacelerando e a rigidez do mercado de trabalho em muitos países e setores voltando aos níveis pré-covid-19, embora as 'escassezes' de mão de obra permaneçam", pondera.
Ainda, para a OCDE, outros fatores relevantes de serem monitorados são as incertezas geopolíticas e os aumentos nas tarifas, que são esperados para diminuir a atividade econômica, levando a uma desaceleração adicional nos mercados de trabalho.
A organização ainda ressalta que os salários reais estão crescendo em praticamente todos os países da OCDE, mas ainda há espaço para recuperação em muitos deles. "No futuro próximo, no entanto, a recuperação salarial pode ser ameaçada pelo possível retorno da alta inflação e pela desaceleração do mercado de trabalho", alerta.
PIB per capita
Simulações com as taxas atuais de crescimento da produtividade mostram que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita pode desacelerar em cerca de 40% no período de 2024-60 nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de acordo com um novo relatório de Perspectivas de Emprego do cartel, publicado nesta quarta-feira. O quadro reflete uma tendência de declínio por muitas décadas e, segundo o documento, todos os países da OCDE verão uma queda no crescimento per capita, com exceção da Irlanda e Estados Unidos, caso mudanças não sejam feitas.
A organização explica que a contração projetada da parcela de pessoas empregadas na população total implica que o crescimento do PIB per capita na zona da OCDE cairá de 1% ao ano na década de 2010 para 0,6% ao ano em média no período de 2024-60. "Isso corresponde a 14% do PIB per capita perdido até 2060", avalia.
Ainda de acordo com a OCDE, nos próximos anos, o tamanho da população em idade ativa (de 20 a 64 anos) diminuirá 8% na zona da OCDE e mais de 30% em mais de um quarto dos países integrantes, enquanto a taxa de dependência de idosos, que aumentou de 19% em 1980 para 31% em 2023, continuará a aumentar e deve subir ainda mais para 52% até 2060.
Devido ao envelhecimento da população, a taxa de emprego em relação à população - ou seja, a porcentagem de pessoas empregadas na população total - deverá diminuir 1,9 pontos porcentuais até 2060 na zona da OCDE, sendo que na Espanha e na República Eslovaca, a queda esperada é de 10 pontos porcentuais.
O relatório sugere que os países precisam combinar mudanças nas tendências de fertilidade e políticas de imigração para atenuar desafios do envelhecimento demográfico. Do contrário, apenas aumentar taxas de fertilidade podem não ser suficientes para reverter o declínio de produtividade no curto prazo.
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