IPCA-15 acima do previsto e disputa no Fed elevam taxas futuras nesta terça

Por Arícia Martins

Após uma tendência incipiente de melhora das expectativas inflacionárias de longo prazo ter reduzido as taxas de juros futuros na segunda-feira, dados do IPCA-15 que mostraram um quadro ainda preocupante para o Banco Central esfriaram apostas de antecipação do corte da Selic e elevaram os DIs no pregão desta terça-feira.

A piora também teve alguma influência do exterior, com os rendimentos dos Treasuries de 30 anos reagindo às incertezas provocadas pela demissão da diretora Lisa Cook do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2027 subiu de 13,916% no ajuste da segunda a 13,975%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,236% no ajuste anterior a 13,305. O DI para janeiro de 2029 avançou de 13,202% no ajuste da véspera para 13,245%, e o DI para janeiro de 2031 marcou 13,585%, vindo de 13,561% no ajuste antecedente.

Divulgada nesta terça pelo IBGE, a prévia da inflação oficial de agosto recuou 0,14%, enquanto a mediana do Projeções Broadcast projetava redução de 0,21%. Mais do que o número cheio em si, chamou atenção do mercado a aceleração dos núcleos, dos serviços e a maior disseminação dos reajustes de preços - um conjunto de informações que deve manter a postura cautelosa do Comitê de Política Monetária (Copom).

"O boletim Focus havia mostrado uma correção das expectativas, indicando que a inflação poderia vir mais baixa, e o IPCA-15 caminhou em sentido contrário", diz Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos, que destaca a deterioração da inflação de serviços. Esse grupo vem sendo acompanhado com lupa pelo BC, por ter correlação maior com o mercado de trabalho, que ainda segue resiliente.

Embora, na passagem mensal, a inflação de serviços tenha desacelerado de 0,70% a 0,50%, no acumulado em 12 meses, a alta dos preços desse setor da economia alcançou 5,96% - maior nível em 20 meses -, destaca Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays. Até julho, os serviços subiam 5,74% dentro do IPCA-15.

O núcleo da inflação de serviços deve permanecer pressionado, avalia Secemski, encerrando o ano perto de 6% em 12 meses - o dobro da meta de inflação perseguida pelo BC, de 3%. Devido à moderação dos preços de bens industriais e de alimentos, na esteira da valorização do real, o economista reduziu suas estimativas para o aumento do IPCA em 2025 e 2026 - para 4,9% e 4,2%, respectivamente -, mas continua enxergando uma conjuntura difícil para o Copom, que só deve começar a cortar a Selic em março de 2026.

"No geral, o cenário para a inflação no Brasil continua desafiador e, em nossa opinião, requer atenção do BC, em meio a pressões inerciais persistentes, expectativas de médio e longo prazos desancoradas, um mercado de trabalho apertado e uma demanda doméstica robusta", diz Secemski.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, a manutenção da Selic ao menos até o final de 2025 é a melhor estratégia neste momento para o colegiado. "A política monetária deve permanecer restritiva para moderar o crescimento, aliviar pressões sobre o emprego e garantir a convergência da inflação no horizonte relevante", afirma Costa. No cenário da corretora, o primeiro corte ocorre em janeiro de 2026.

Oliveira, da One Investimentos, acrescenta que a abertura nas taxas mais longas dos Treasuries nesta terça também contribuiu para pressionar a curva local, ainda que o principal condutor dos negócios tenha sido o IPCA-15.

Às 18h02, o juro do T-Bond de 30 anos subia a 4,922%. Na noite da segunda, o presidente Donald Trump anunciou a demissão de Lisa Cook como dirigente do Fed, o que despertou dúvidas sobre a independência do BC norte-americano. Cook já descartou deixar o cargo, em um impasse que deve ser decidido pelo Judiciário dos EUA.