O ambiente de aversão ao risco que dominou os mercados externos pressionou os ativos domésticos no pregão desta terça-feira, 2. Na curva de juros futuros, a escalada nos rendimentos de títulos soberanos dos Estados Unidos e Europa penalizou taxas intermediárias e longas, que chegaram a subir mais de 10 pontos-base. Já a taxa para janeiro de 2027, mais correlacionada à política monetária local, voltou a se aproximar de 14%.

Enquanto, no continente europeu, França e Reino Unido enfrentam problemas fiscais que podem diminuir a demanda por títulos da dívida pública de longo prazo, segundo análise da Capital Economics, nos EUA, o receio é sobre a independência do Federal Reserve (Fed), alvo constante de ataques do governo de Donald Trump.

Por aqui, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus sobre a trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) começou hoje, mas foi tido como fator secundário para a alta dos DIs, em meio à forte piora do ambiente internacional. O PIB do segundo trimestre, por sua vez, veio praticamente em linha com as estimativas.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,933% no ajuste de ontem para 13,985%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,166% no ajuste para 13,365%. O DI para janeiro de 2029 subiu de 13,224% no ajuste da véspera para 13,34%, e o DI para janeiro de 2031 marcou 13,67%, vindo de 13,555% no ajuste anterior.

Divulgado hoje pelo IBGE, o PIB cresceu 0,4% entre o primeiro e o segundo trimestres, feitos os ajustes sazonais. O número cheio superou ligeiramente a mediana prevista pelo Projeções Broadcast, de expansão de 0,3%, mas não mudou expectativas de bancos e consultorias para o crescimento de 2025, que deve ficar pouco acima de 2%. A percepção geral é que a política monetária em postura restritiva está surtindo efeito sobre a atividade em ritmo gradual, e conforme o esperado pelo Banco Central (BC).

Depois da publicação do dado, considerando a trajetória apontada pela curva de juros, as apostas para o início do ciclo de flexibilização da Selic ainda estão concentradas em janeiro de 2026, observa Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. "Considerando a parte curta da curva o DI para janeiro de 2027, essa alta é em boa parte devida ao PIB", avalia Borsoi. "Para validar as teses de que o Copom vai cortar os juros cedo, o PIB precisava ter vindo mais fraco".

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que a última leitura das Contas Nacionais Trimestrais teve pouca influência sobre a curva nesta terça, uma vez que os números ainda indicam arrefecimento do nível de atividade. Embora o número cheio tenha superado levemente o consenso de mercado, a abertura evidencia perda de ímpeto generalizada e persistente da economia, diz Sanchez. "Nada que venha a alterar o call de juros, que tem predominância de corte de 0,25 ponto porcentual em janeiro".

Para o economista-chefe da Ativa, o principal vetor para a deterioração do mercado de juros hoje veio do exterior, com o aumento da imprevisibilidade global e fortalecimento do dólar em relação a uma série de divisas. O rendimento do T-Bond de 30 anos chegou a atingir 5% no dia, com preocupações sobre a ingerência de Trump no Fed, decisão judicial no País contrária à política tarifária do presidente e, ainda, um encontro entre os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping.

Em entrevista nesta tarde, Trump afirmou não ter preocupações com a aproximação entre os dois países. Mas disse que Brasil, China e Índia "matam" os Estados Unidos com "a alta quantidade" de tarifas aplicadas sobre Washington, sem mencionar a situação de Bolsonaro - citado por ele, no início de julho, como um dos motivos para a aplicação do tarifaço sobre o Brasil. A defesa do ex-presidente brasileiro deve se manifestar no STF amanhã.