O dólar apresentou alta firme nesta quarta-feira, 24, em sintonia com a onda global de valorização da moeda norte-americana. Investidores ajustaram posições em meio à moderação das apostas em corte de juros mais agressivo nos EUA, após falas cautelosas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Com máxima de R$ 5,3310, à tarde, o dólar à vista fechou a sessão em alta de 0,91%, a R$ 5,3274. O real, que lidera os ganhos entre divisas latino-americanas no ano, nesta quarta apresentou desempenho pior que seus pares regionais.

Operadores afirmam que o ambiente externo negativo para divisas emergentes abriu espaço para ajustes e realização de lucros no mercado local. Nesta quarta, o dólar caiu 1,11% e fechou na casa de R$ 5,27, na esteira do otimismo com uma possível redução das tensões entre Brasil e EUA.

Em fala na Assembleia Geral da ONU, o presidente americano, Donald Trump, elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem disse ter tido uma "química excelente" em encontro de poucos segundo nos bastidores, e disse que os dois devem se encontrar na próxima semana.

"Vemos hoje um movimento global de valorização do dólar. O real já se valorizou muito e teve uma queda mais forte do dólar aqui ontem com a questão da ONU. Havia espaço para uma correção", afirma o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo.

O economista pondera, contudo, que além de questões técnicas, há um desconforto com o quadro fiscal doméstico que pode ter levado a um escorregão mais forte do real. Ele cita números abaixo do esperado da arrecadação de agosto, divulgados na terça, e fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a favor do aumento de impostos e da isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil em audiência nesta quarta na Câmara dos Deputados.

"Haddad reforçou a visão de que o governo vai continuar a se amparar no aumento da receita para cumprir as metas, inclusive no ano que vem, em vez de olhar as despesas, como deveria ser. Essa postura do governo ao lado da perda de arrecadação traz dúvidas sobre as contas públicas em 2026", afirma Galhardo.

Reunião da comissão mista da Medida Provisória 1.303, que traz alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi suspensa nesta quarta à tarde. A votação do relatório do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) deve ser no próximo dia 30. O texto estabelece a taxação de 7,5% de IR sobre o rendimento de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). A MP tem arrecadação projetada de R$ 10,5 bilhões em 2025 e de R$ 21,8 bilhões em 2026.

No exterior, o índice DXY - que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes - chegou a se aproximar dos 98,000 pontos, com máxima aos 97,921 pontos. No fim da tarde, rondava os 97,860 pontos, em alta de cerca de 0,60%. As taxas dos Treasuries subiram em bloco, com máximas à tarde, o que pressionou divisas emergentes.

Operadores afirmam que o mercado ainda ecoa discurso da terça do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, com alertas para riscos inflacionários, a despeito da deterioração do mercado de trabalho. Powell reiterou que, apesar do corte de 25 pontos-base nos juros na semana passada, a política monetária não está em uma trajetória predeterminada.

Em entrevista à Fox News nesta quarta, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse nesta quarta que Powell deveria ter sinalizado um corte acumulado de 100 a 150 pontos-base para as próximas reuniões do Fed de 2025 e 2026.

"Não sei por que ele moderou o discurso sobre corte de juros ontem", disse Bessent, acrescentando que encerrará até a primeira semana de outubro a primeira rodada de entrevistas para a substituição de Powell, cujo mandato vai até maio de 2026.

Em um dia de agenda enxuta de indicadores, Galhardo, da Análise Econômica, chama a atenção para dados mais fortes do que o esperado do setor imobiliário nos EUA, que "contrastam com a desaceleração do mercado de trabalho" e lançam dúvidas sobre a velocidade da perda de fôlego do dólar.

Pela manhã, o Departamento do Comércio americano informou que as vendas de moradias novas nos EUA subiram 20,5% em agosto em relação a julho, para o ritmo anual (com ajuste sazonal) de 800 mil unidades, enquanto a previsão dos analistas era de alta de 0,3%.

"Além de dados de vendas de casas novas, o volume de estoque de petróleo bruto e de gasolina caíram além do esperado, o que mostra a resiliência da economia americana e trazem dúvidas sobre o comportamento do Fed até o fim do ano", afirma Galhardo.