Com inflação e Fux, Ibovespa se reaproxima de recorde, perto dos 143 mil pontos

Por Luís Eduardo Leal

Em dia de leituras deflacionárias sobre índices de preços tanto no Brasil (IPCA) como nos Estados Unidos (PPI, a métrica do atacado), ambos referentes a agosto, o Ibovespa ganhou fôlego e, pela terceira vez nas últimas quatro sessões, tocou no intradia, sem conseguir sustentar no fechamento, a marca inédita dos 143 mil pontos. Assim, ficou bem perto de renovar a recente máxima histórica de encerramento (do dia 5), nesta quarta-feira, 10, aos 142.348,70 pontos, em alta moderada a 0,52%, e com giro a R$ 18,8 bilhões nesta Quarta-feira.

No melhor momento, foi aos 143.181,59 pontos, saindo de mínima na abertura aos 141.611,77 pontos. Na semana, em três sessões, ainda cede 0,20%, com ganho no mês a 0,66% e, no ano, a 18,34%.

Para além da agenda econômica, o voto divergente do ministro Luiz Fux, na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), deu fôlego à expectativa de que o desenlace do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus por tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral de 2022 venha a resultar em neutralidade da Casa Branca. Na terça, por meio da porta-voz, a Presidência dos EUA chegou a indicar que países que ferem a liberdade de expressão - como alega ser o caso no Brasil, com o julgamento do STF - estão sujeitos não apenas ao emprego de mecanismos econômicos - leiam-se tarifas comerciais - como também à ação militar.

Em Londres e Nova York, em meio à retomada de tensões no Oriente Médio desde o inédito ataque, na terça, de Israel ao Catar - outro aliado dos EUA na região -, os preços do petróleo seguiram pressionados nesta quarta-feira, em alta de 1,6% na sessão, o que favoreceu as ações de Petrobras (ON +2,56%, PN +1,81%) na B3. Foi o terceiro dia consecutivo de ganhos para as cotações da commodity no exterior.

Vale ON também fechou no positivo, em alta de 0,69%, assim como a maioria dos grandes bancos à exceção de Bradesco (ON -0,83%, PN -0,71%). Destaque para a recuperação vista em Banco do Brasil (ON +3,04%), instituição financeira pública tida como alvo preferencial da Casa Branca em eventuais novas sanções - hipótese que perde força, no momento, com a quebra de consenso pela condenação de Bolsonaro, por meio do voto dissidente do ministro Fux nesta quarta-feira.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, C&A (+4,80%), Marfrig (+4,17%) e Magazine Luiza (+3,70%), à frente de Banco do Brasil. No lado oposto, MRV (-4,83%), Braskem (-3,69%), Suzano (-2,14%) e Klabin (-1,81%). "Na sessão, a deflação pelo IPCA favoreceu, obviamente, empresas com exposição à taxa de juros, como as de varejo C&A e Magazine Luiza, bem como alguns nomes do setor de construção, como Cyrela (em alta de 1,68% no fechamento)", diz Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Na agenda econômica doméstica, destaque pela manhã para o IPCA de agosto, com deflação um pouco inferior à aguardada para o mês. Nos núcleos, contudo, a leitura não pareceu tão benfazeja, observa Camilo Cavalcanti, gestor de portfólio na Oby Capital. "Nos núcleos, a sinalização é mais preocupante. A média ficou em 0,31%, acima de julho e também do esperado para agosto, mostrando que a inflação subjacente segue resiliente, interrompendo a melhora dos últimos meses. O maior destaque negativo foram os itens intensivos em trabalho que vieram com alta de 0,65%", acrescenta.

Dessa forma, na semana que antecede a deliberação do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic, a inflação oficial de agosto não tende a alterar a perspectiva e os sinais do BC sobre os juros básicos, hoje a 15% ao ano. "O Banco Central deve adotar cautela na condução dos cortes da Selic. Embora os preços administrados e itens voláteis, como combustíveis e energia, sigam trazendo alívio, a persistência da inflação de serviços e a difusão elevada reforçam a necessidade de uma condução cuidadosa", diz Cavalcanti.

Por outro lado, nos Estados Unidos, a leitura deflacionária da inflação ao produtor (PPI) em agosto, em retração de 0,1% na margem - quando a expectativa de consenso era de que haveria alta de 0,4% no mês - contribui para manter sobre a mesa, na semana que vem, a expectativa do mercado de que o Federal Reserve inicie, de fato, o ciclo de afrouxamento da política monetária por lá, aponta Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos.

"Mercado doméstico está firme, sem correções mais profundas, o que chamou atenção também neste pregão. O próximo passo será acompanhar a evolução da curva de juros e, principalmente, a decisão do Federal Reserve sobre as taxas de referência dos Estados Unidos na semana que vem. Caso haja entrada de fluxo estrangeiro para ações brasileiras, a Bolsa tende a ganhar novo impulso", diz Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital.