Fala de Powell coloca dúvida sobre corte em dezembro e eleva taxas de juros nesta quarta

Por Arícia Martins

Depois de pouco oscilarem na primeira parte da sessão, os juros futuros negociados na B3 ganharam impulso e tocaram máximas intradia em toda a extensão da curva na segunda etapa do pregão desta quarta-feira, 29. Sem vetores locais relevantes para os negócios, as taxas subiram em sintonia com a abertura dos rendimentos dos Treasuries e em reação às declarações mais conservadoras do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, que colocaram em xeque a perspectiva de nova redução do juro básico americano em dezembro.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2027 subiu de 13,834% no ajuste de ontem para 13,860%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,126% no ajuste de terça-feira para máxima intradia de 13,200%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,160%, vindo de 13,074% no ajuste antecedente. O DI para janeiro de 2031 avançou de 13,361% no ajuste a máxima intradiária de 13,460%.

Conforme esperado, o Fed cortou o juro em 0,25 ponto porcentual, para intervalo entre 3,75% e 4,00%, mas a decisão não foi consensual. Indicado pelo presidente Donald Trump para um mandato-tampão, o diretor Stephen Miran votou por flexibilização de 50 pontos-base. Já o presidente da distrital de Kansas City, Jeffrey Schmid, defendeu a manutenção do juro no patamar anterior.

Na ausência de estatísticas oficiais devido à continuidade da paralisação parcial do governo dos EUA, as atenções ficaram concentradas no discurso do presidente Jerome Powell, considerado duro pelos agentes.

Powell deu a entender que, embora a decisão sobre a reunião de dezembro do Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) esteja em aberto, há uma inclinação do colegiado para pausar o ciclo. "Cortamos em 25 pontos-base nas últimas duas reuniões e há forte sentimento de que é hora de pausar", disse. Powell deu peso à divergência de opiniões entre os integrantes do FOMC, o que o levou a concluir que não há uma decisão cravada sobre dezembro.

Após o discurso, a Selic precificada pela curva a termo para o final de 2026 subiu ligeiramente, de 12,55% a 12,60%, observa Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG. Serrano atribui a abertura dos DIs na sessão de hoje à postura mais conservadora do presidente do Fed.

Head de renda fixa da Porto Asset, Gustavo Okuyama lembra que, pela última comunicação do Fed, o plano de voo indicado seria de 3 cortes da taxa básica em 2025, sendo que dois já foram realizados. "Mas agora Powell diminuiu a precificação para dezembro", diz Okuyama.

Ele aponta que, de acordo com ferramenta do CME Group, as apostas de corte no último mês do ano diminuíram de 92% para 62%. "Powell trouxe a ideia de que o FOMC está longe de ter um consenso para reunião de dezembro", disse, o que contraria os últimos dados conhecidos sobre a economia americana que vão na direção de fraqueza - o relatório Jolts de emprego e o CPI de setembro.

A retórica do Fed, de acordo com o especialista da Porto Asset, tirou os DIs da dinâmica benigna observada até o meio da tarde no pregão de hoje, embora, em sua visão, a reversão nas taxas tenha sido moderada, uma vez que a conjuntura doméstica ainda é propícia a posições aplicadas em juros. "Tivemos um último dado de inflação muito positivo e surpresas para baixo com o mercado de trabalho, que terão novos dados divulgados nos próximos dias. Acho que isso contribuiu para segurar a alta dos DIs."

Ao longo do dia, o mercado também operou na expectativa do encontro, confirmado pela Casa Branca nesta manhã, entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, da China, que pode enfim aliviar as tensões comerciais entre os dois países. A reunião ocorre hoje, às 23 horas de Brasília, em Gyeongju, na Coreia do Sul. "Espera-se que a reunião concretize um pacto que reverterá parte das tarifas e restrições impostas nas últimas semanas", apontou a equipe econômica da BuysideBrazil em relatório.