Os profissionais do mercado financeiro ainda não estão preparados para falar sobre investimentos no exterior. A frase foi repetida algumas vezes e por representantes de diferentes instituições durante evento promovido pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) no início do mês, e revelou a ânsia da Faria Lima em internacionalizar os portfólios de seus clientes. Porém, enquanto o acesso aos mercados globais ficou mais fácil nos últimos anos, os profissionais ainda têm um caminho a trilhar junto aos investidores, e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) procurou grandes casas para conhecer as estratégias utilizadas - que vão de cursos e palestras a viagens para fora do País.

"A carteira do brasileiro é de investimentos locais e a diversificação internacional tinha uma barreira de custo, estrutura e oferta. Mas, ao longo dos últimos 10 anos, vimos uma maior abertura para o mercado oferecer esse tipo de produto. Ao mesmo tempo, em discussões na Anbima, vimos a necessidade de preparar a força de vendas, assim como os investidores", afirmou Marcelo Billi, superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima.

Do lado dos investidores, os últimos anos foram de construção de uma cultura com maior diversificação, segundo Billi. Embora a taxa de juros historicamente alta no Brasil ainda segure investidores na ideia de segurança da renda fixa, o executivo avalia que é possível observar uma busca por melhor equilíbrio entre risco e retorno, o que tem cada vez mais incluído diversificação geográfica. O argumento de que parte da vida financeira está ligada ao exterior - via consumo, viagens e flutuações cambiais - tem feito as pessoas prestarem mais atenção nisso, diz Billi.

Do outro lado, as plataformas de investimento passaram a oferecer mais alternativas para acesso a mercados globais. Assim, embora já trabalhe o tema em suas certificações, a Anbima lançou recentemente uma microcertificação para educar profissionais sobre investimentos internacionais. São cinco trilhas de aprendizagem, com cerca de três horas de duração, gratuito e disponível para qualquer inscrito na plataforma Anbima Edu. "O tema cresceu muito e vimos que os profissionais estavam sendo demandados, então decidimos lançar a microcertificação. Quem faz ela aprende muito mais do que é exigido nos exames", diz Billi. "É um esforço adicional."

Estratégias

A busca pelo tema de investimentos internacionais é cada vez maior e, quem não estiver pronto para falar sobre o assunto, vai ficar para trás, alerta Juliana Benvenuto, coordenadora de Alocação e Inteligência da Avenue. "Os próprios profissionais já estão sentindo isso e indo atrás", afirma. "O educacional é uma das ferramentas mais importantes para dar acesso ao mercado internacional. E, quanto mais profissionais capacitados tivermos, melhor para o investidor final."

Desde 2022, a Avenue oferece projetos de capacitação para seus parceiros, com uma estrutura que trabalha desde argumentos comerciais, à compreensão do funcionamento do mercado americano e vai até questões como planejamento tributário e sucessão patrimonial no exterior. Os conteúdos em vídeo são compartilhados com os parceiros e treinamentos online e presencial também são realizados. Benvenuto conta que, em 2024, foram mais de 350 sessões ao vivo.

No BTG Pactual, a área de capacitação possui uma equipe multidisciplinar focada em apoiar os profissionais na transmissão de informações e assimilação de conteúdos, segundo o head de Capacitação, Victor Ferreira. A empresa possui uma universidade corporativa interna chamada BTG Bankers, com disponibilização de material gravado e documentos. Além disso, a rede participa de discussões e treinamentos síncronos para "esticar a jornada de aprendizagem, sem ser algo apenas pontual", diz Ferreira.

Isso de modo amplo. Especificamente para o conteúdo offshore, o executivo adiantou que o BTG está desenhando um certificado de distinção de conhecimento, que deve ser lançado no ano que vem.

Outra estratégia é o envio dos profissionais para treinamentos no exterior. O BTG já levou líderes das assessorias para lugares como a Universidade de Columbia e a Wharton School. Já a Monte Bravo enviou profissionais para uma imersão no Disney Institute. A corretora também traz profissionais de fora para palestras no Brasil, sendo uma das mais recentes com David Richman, referência global no desenvolvimento de consultores financeiros.

"Temos provocado formas diferentes de capacitação dos nossos profissionais para que esse tema se torne cada vez mais relevante. E, através do assessor, levamos essa educação para os clientes também", afirma Felipe Carbonar, diretor comercial (CCO, na sigla em inglês) da Monte Bravo. "Tratar do offshore toda segunda-feira, em reunião semanal, também fez muita diferença para acelerarmos nosso crescimento", acrescenta.

Quase 15% do volume total de R$ 45 bilhões sob custódia da corretora está fora do Brasil. A expectativa é elevar o número para 20% a 25%.