Dólar tem leve recuo com exterior e tom duro do Copom
O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 6, em leve baixa, na casa de R$ 5,34, acompanhando a onda de desvalorização da moeda americana no exterior, após dados mais fracos do mercado de trabalho nos Estados Unidos estimularem apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro.
Pela manhã, o dólar chegou a experimentar uma queda mais agressiva no mercado local, tocando o nível de R$ 5,33, com investidores assimilando o impacto do tom duro do Comitê de Política Monetária (Copom) no comunicado de quarta à noite. Além da já esperada manutenção da taxa Selic em 15%, o BC mostrou convicção de que a permanência do juro básico no nível atual por "período bastante prolongado" é compatível com a convergência da inflação à meta.
O dólar reduziu o ritmo de queda ao longo da tarde e chegou até a tocar terreno positivo, com máxima a R$ 5,3632, com ajustes e realização de lucros intradia, em especial no segmento futuro. Operadores chamaram a atenção para o fato de que divisas emergentes pares do real, à exceção do peso colombiano, exibiram ganhos inferiores que o de moedas desenvolvidas.
No fim do dia, o dólar à vista recuava 0,23%, a R$ 5,3489 - menor valor de fechamento desde 8 de outubro, passando a apresentar desvalorização de 0,58% nos primeiros quatro pregões de novembro, após ter avançado 1,08% em outubro. No ano, as perdas são de 13,45%, o que faz o real exibir o melhor desempenho entre moedas latino-americanas no período.
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, lembra que o real apresentava bom desempenho nos últimos dias mesmo em momentos de alta do índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes. O Dollar Index chegou a tocar recentemente os 100,000 pontos, atingindo os maiores níveis desde agosto.
"Hoje vemos um movimento diferente. O dólar tem uma queda mais modesta aqui. O DXY havia subido bastante e havia espaço para um ajuste. E o dia é de menor apetite ao risco no exterior, o que afeta as moedas emergentes", afirma Costa.
No fim da tarde, o índice DXY recuava cerca de 0,50%, ao redor dos 99,700 pontos, após mínima aos 99,671 pontos na segunda etapa de negócios, com perda mais expressiva do dólar em relação ao iene e a libra. Com o avanço de hoje, o Dollar Index zera os ganhos neste início de outubro. No ano, recua cerca de 8%.
Em relatório divulgado nesta quinta-feira, a consultoria Challenger, Grey & Christmas informou que empresas sediadas nos EUA anunciaram mais de 153 mil demissões em outubro, o maior número desde 2003 e uma alta de 175% em relação a outubro de 2024.
O economista Rafael Prado, da GO Associados, observa que novos sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho americano deram fôlego às apostas em corte de juros pelo Fed em dezembro, apesar de diversos dirigentes da instituição, incluindo o chairman Jerome Powell, sugerirem que pode haver uma pausa no ciclo de afrouxamento monetário.
"Com o shutdown nos EUA, qualquer dado disponível, mesmo que não seja oficial, acaba mexendo com as expectativas, ainda mais porque o Fed parece dar mais ênfase recentemente à piora do mercado de trabalho em seu balanço de riscos", afirma Prado.
O economista pondera, contudo, que a taxa real efetiva de juros nos EUA já está bem próxima do nível considerado neutro. Uma redução adicional dos Fed Funds poderia despertar pressões inflacionárias em um ambiente de expectativas de inflação ainda acima da meta.
"Do meu ponto de vista, uma redução em dezembro, após dois cortes seguidos de 25 pontos-base, não seria bem-vinda. Mas o mercado parece dar mais ênfase aos riscos de piora do mercado de trabalho e reforçou a aposta em novo corte, o que acabou derrubando o dólar o exterior", afirma Prado.
