Taxas de juros recuam com possível fim do shutdown e à espera do IPCA e da ata do Copom

Por Arícia Martins

Tendo como pano de fundo o ambiente externo mais propício à tomada de risco com as indicações de que o shutdown mais longo da história do governo americano vai terminar, os juros futuros negociados na B3 se mantiveram em queda firme no pregão desta segunda-feira, 10, especialmente no miolo da curva.

Segundo agentes, a tendência de declínio observada desde a abertura, que, então, seguiu o dólar, pode ter sido reforçada pela expectativa de um resultado mais benigno para a inflação de outubro, assim como de possíveis sinais menos duros na comunicação do (BC). O Comitê de Política Monetária (Copom) divulga a ata de sua última reunião nesta terça-feira, 11, mesmo dia em que o IBGE publica o IPCA referente ao mês passado.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 recuou de 13,874% no ajuste de sexta-feira para 13,825%. O DI para janeiro de 2029 cedeu de 13,068% no ajuste anterior a 12,955%. Foi a primeira vez que esse vértice ficou abaixo de 13%, considerando níveis de fechamento, em um ano - em 11 de novembro de 2024, terminou o pregão em 12,975%. Na ponta mais longa da curva, o DI para janeiro de 2031 marcou mínima intradiária de 13,250%, vindo de 13,375% no ajuste antecedente.

"Todo o movimento dos mercados foi muito pró-Brasil. Parece que é fluxo de fora que está contribuindo com a queda dos DIs", disse Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus Research, mencionando o otimismo trazido pela perspectiva de fim da paralisação da administração federal dos Estados Unidos.

Depois de o Senado americano ter aprovado no domingo, 09, uma lei que financia o governo de forma provisória até o fim de janeiro, o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, disse que deve ter os votos necessários para dar aval ao projeto que vai permitir a reabertura.

Sócio e economista da consultoria Pezco, Helcio Takeda destaca que, encerrado o shutdown da máquina pública americana, uma série de estatísticas oficiais que não foi publicada no período será conhecida, o que dará maior segurança aos agentes para prever os próximos passos da política monetária nos EUA - e, eventualmente, endossar perspectiva de mais afrouxamento do juro.

Para Takeda, os vértices futuros de horizontes curtos cederam menos na sessão de hoje do que os demais devido à cautela do Banco Central brasileiro na sinalização sobre quando o juro básico começará a ser reduzido por aqui. Fatores como novas surpresas inflacionárias e com a desaceleração da atividade, apreciação adicional do câmbio e confirmação de que a autoridade monetária americana vai seguir flexibilizando os Fed Funds seriam possíveis gatilhos para alívio dos DIs nessa parte da curva futura, avalia.

Os investidores estarão atentos nesta terça à divulgação do IPCA de outubro, para o qual a mediana de analistas consultados pelo Projeções Broadcast projeta alta de 0,14%, após avanço de 0,48% em setembro, e também à ata do Copom. Na visão de Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, a expectativa em torno destes dois dados já pode ter contribuído com o fechamento da curva no pregão nesta segunda. "Além da melhora lá fora com o fim do shutdown e da boa performance do câmbio, pode ter alguma aposta do mercado antes da divulgação do IPCA e da ata", afirmou.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, surpresas com a variação dos alimentos e bens industriais no indicador oficial de inflação poderiam favorecer as apostas de início do ciclo de flexibilização da Selic em janeiro. Sobre a ata, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que qualquer reconhecimento pelo Copom de que a inflação projetada para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante para a política monetária, estará "ao redor" da meta pode ser suficiente para o mercado fazer uma leitura mais 'dovish' - ou seja, mais inclinada a cortes - do documento.