Dólar vai a R$ 5,33 com aversão global ao risco
O dólar apresentou alta firme nesta abertura da semana e voltou a fechar acima de R$ 5,30 pela primeira vez após quatro sessões. O dia foi marcado por aversão ao risco no exterior, com tombo das bolsas em Nova York, em meio a preocupações com uma eventual bolha em ações de big techs, e valorização global da moeda americana.
Investidores adotaram uma postura cautelosa à espera da divulgação nos próximos dias de indicadores nos EUA, em especial de emprego, que ficaram represados pelo "apagão de dados" provocado pelo shutdown de 43 dias. A avaliação é a de que os dados podem reforçar a perspectiva de interrupção do alívio monetário pelo Federal Reserve.
Operadores afirmam que o ambiente externo abriu espaço para ajustes e movimentos de realização de lucros no mercado local, após a onda recente de apreciação do real que levou o dólar aos menores níveis desde o início de junho de 2024. Além disso, há a expectativa de aumento das remessas ao exterior nas próximas semanas. Pela manhã, o Banco Central colocou a oferta integral de US$ 1,25 bilhão em leilão de linha para rolar o vencimento de 2 de dezembro.
Com máxima a R$ 5,3330 na reta final dos negócios, em sintonia com a piora do ambiente externo, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 17, em alta de 0,64%, a R$ 5,3310 - maior valor de fechamento em 10 dias. A moeda acumula queda de 0,92% em novembro, após ter subido 1,08% em outubro. No ano, as perdas são de 13,74%.
Para o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, investidores parecem pouco dispostos a assumir riscos diante da expectativa pela divulgação de indicadores dos EUA, em especial o relatório de emprego (payroll) de setembro, na quinta-feira, 20, quando o mercado local estará fechado em razão do feriado do Dia da Consciência Negra.
"O atraso na divulgação dos dados é grande, o que acaba deixando o mercado bastante reticente, sem grandes alterações de posições. É preciso ver o que os números vão revelar até para ver se pode haver espaço para mais cortes de juros pelo Federal Reserve", afirma Velloni.
Na quarta-feira, 19, o Fed divulga a ata do encontro de política monetária do fim de outubro, quando a taxa básica de juros foi reduzida em 25 pontos-base. Na ocasião, o presidente do BC americano, Jerome Powell, alertou que uma redução dos juros em dezembro não está garantida. De lá para cá, dirigentes do Fed exprimiram opiniões divergentes, com parte advogando pela interrupção do processo de alívio monetário.
Vice-presidente do Fed, Philip Jefferson disse que a economia dos EUA perdeu força no trimestre por causa da paralisação do governo, mas que os efeitos do shutdown devem ser "majoritariamente temporários". Jefferson, que apoiou o corte de 25 pontos-base em outubro, disse que a política monetária permanece restritiva, mas já próxima de seu nível neutro.
Economistas do BTG Pactual ressaltam que os dirigentes Fed adotaram um tom "amplamente hawish" na semana passada, reforçando a postura cautelosa da política monetária diante do nível muito elevado de incerteza em razão da ausência de indicadores durante o shutdown.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,25% no fim da tarde, ao redor do 99,560 pontos, perto das máximas. O iene perdeu mais de 0,40% após a queda do PIB japonês registrar no terceiro trimestre a primeira contração em seis trimestres. Em novembro, o Dollar Index recua 0,xx.
Entre divisas latino-americanas pares do real, o peso chileno apresentou leves ganhos com a expectativa de que o candidato conservador José Antonio Kast, que ficou em segundo lugar no primeiro turno da eleição presidencial, possa vencer o pleito em segundo turno e adotar política fiscal mais ortodoxa.
O sócio-diretor da Wagner Investimentos José Faria Júnior pondera que o comportamento do real recentemente está mais atrelado à evolução de moedas da Austrália, Colômbia, México e China. "Se estas seguirem se valorizando contra o dólar, o real deverá seguir o mesmo caminho. Na semana passada, essas divisas fecharam no maior patamar contra o dólar no ano", afirma Faria Junior.
