Taxas de juros futuras têm leve correção com queda do dólar e quadro político

Por Arícia Martins

Em queda tímida até o início da tarde, os juros futuros negociados na B3 encontraram espaço para ceder um pouco mais após o dólar ter se firmado em leve baixa na segunda etapa do pregão desta segunda-feira, 08. O alívio, que chegou a cerca de 10 pontos-base nos vértices a partir de 2028, também acompanhou o arrefecimento da curva dos Treasuries, que perdeu ímpeto após um leilão de títulos de 3 anos com demanda expressiva.

Segundo agentes, o principal condutor dos negócios na sessão foi a correção da forte alta de sexta-feira, que está longe de ser totalmente devolvida - dia em que a oficialização da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) à eleição presidencial de 2026 embaralhou as apostas do mercado para o pleito e levou o vértice de janeiro de 2031 a saltar quase 60 pontos-base.

Hoje, declarações do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro de que pode desistir da corrida presencial caso os condenados na trama golpista sejam anistiados animaram os investidores. Isso porque, com eventual volta atrás, o nome do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), tido pelo mercado como o mais competitivo da direita e, também, com maior probabilidade de implementar um ajuste fiscal em 2027, volta a ganhar musculatura.

Segundo apurou o Broadcast Político, algumas legendas de centro-direita não querem apoiar imediatamente o senador para a disputa presidencial, por avaliarem que sua candidatura não deve se sustentar, podendo ser uma estratégia pontual para manter o bolsonarismo ainda como polo oposicionista. Neste domingo, Flávio disse em entrevista à TV Record que o "preço" para desistir de concorrer em 2026 seria ter Bolsonaro "livre e nas urnas". Comentou ainda que Tarcísio é o principal "cara do time" e que acredita na reeleição dele como governador de São Paulo.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 diminuiu de 13,843% no ajuste anterior para 13,785%. O DI para janeiro de 2029 caiu de 13,229% no ajuste a 13,18%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,41%, vindo de 13,472% no ajuste.

Diretor de análise da Zero Markets Brasil, Marcos Praça afirma que o pregão foi uma discreta correção do que avalia como exagero da sessão anterior. "Hoje foi mais um 'morde e assopra', com o Flávio deixando claro que quer a anistia do pai, e que a candidatura não é um forte desejo seu. É só um alarde, e o mercado tende a continuar corrigindo isso. Nesta segunda, ficou mais 'em cima do muro'", avaliou, tendo em vista, além da volatilidade do cenário político, a proximidade das definições de juro básico aqui e nos Estados Unidos, nesta quarta-feira.

"Vejo o movimento desta segunda mais como oportunismo da especulação. Claro que o mercado gostaria mais do Tarcísio, por causa da expectativa em torno da política fiscal, pensando que o presidente Lula poderia ter medidas mais populistas. Mas acho que ainda é muito cedo para criar narrativas em cima da eleição", diz Praça.

Segundo Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, o maior gatilho para os negócios foi a questão política, mas na parte da tarde, a aceleração do recuo da curva de DIs parece ter vindo da melhora do exterior. Isso porque o Ibovespa e o dólar também passaram e exibir comportamento mais benigno, em linha com a melhora nas bolsas de Nova York.

Além de digerirem o noticiário político, os investidores aguardam a decisão do Federal Reserve (Fed), que deve diminuir o juro básico americano em 0,25 ponto porcentual nesta quarta. Já o Banco Central deve manter a Selic nos atuais 15% no mesmo dia.

Praça, da Zero Markets, não espera nenhum sinal mais claro na comunicação da autoridade monetária sobre o momento do início do ciclo de flexibilização, mas ressalta que, de acordo com as opções digitais de Copom negociadas na B3, a chance de redução de 25 pontos-base em janeiro ficou maior. A probabilidade de manutenção está em 34,8%, e a de corte, em 41,5%.