Taxas de juros futuras sobem de olho em ata do Copom e cenário eleitoral

Por Arícia Martins

Ignorando o alívio vindo de fora com o fechamento dos Treasuries, os juros futuros negociados na B3 tiveram alta firme no pregão desta terça-feira, 16, com ganho de inclinação na curva. Se na parte curta, a falta de sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu ligeiramente apostas de cortes da Selic em janeiro, os trechos intermediários e longos subiram de olho em percepção sobre o cenário político que, depois, foi confirmada por publicação de pesquisa eleitoral Genial/Quaest.

Com previsão de divulgação na quarta, o levantamento veio a público no início desta tarde e mostrou que o presidente Lula tem vantagem sobre todos os adversários no primeiro turno e ganharia de todos os opositores no segundo turno se as eleições de 2026 fossem hoje.

Na primeira enquete do instituto depois da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o nome do senador figura como o mais bem posicionado da direita na primeira etapa do pleito, o que dificulta uma unidade da oposição e o protagonismo do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) - que, na visão do mercado, seria o candidato mais competitivo e com maiores chances de implementar um ajuste fiscal.

Já do lado dos dados, a ata do Copom não trouxe novidades em relação ao tom conservador do Banco Central, mas a insistência em não dar pistas sobre o início do ciclo de cortes diminuiu ligeiramente as apostas de uma redução da Selic em janeiro. Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,63% no ajuste anterior para 13,725%. O DI para janeiro de 2029 aumentou de 12,982% no ajuste para 13,155%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,435%, vindo de 13,259% no ajuste.

Head de política monetária do Santander, Marco Antonio Caruso observa que o Copom reconheceu progresso significativo no processo de desinflação, mas não deu indício algum de que o juro básico será flexibilizado em janeiro, que segue como cenário-base da instituição. "É evidente que o Copom não pretende antecipar seus movimentos futuros", afirma Caruso, que aguarda o Relatório de Política Monetária (RPM), a ser conhecido nesta quinta-feira, para reavaliar as "condições subjacentes".

Entre segunda e essa terça, as apostas de manutenção da Selic em janeiro aumentaram ligeiramente, de 47% para 53% considerando o mercado de opções digitais de Copom negociadas na B3, nota André Muller, economista-chefe da AZ Quest Investimentos. Já a Selic terminal para 2026 apontada pela curva futura ficou praticamente estável, ao oscilar de 12,35% para 12,40%. "Nesse horizonte, há influência da percepção sobre a ata, que veio sem sinalização alguma", nota Muller.

Em sua visão, no entanto, a piora generalizada dos ativos domésticos nesta terça teve como principal gatilho a volatilidade do cenário eleitoral, com a sinalização nas pesquisas de que o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro poderia ser um candidato viável - o que tira peso do nome de Tarcísio, que teria mais probabilidade de vencer Lula. "Na abertura do dia, tivemos alta dos juros longos e queda da Bolsa, um típico movimento de aversão a risco. Há uma precificação maior de que Flávio pode seguir na corrida eleitoral. A curva abriu de maneira surpreendente e a ata não tem a ver com isso a essa altura do campeonato", frisou.

Lá fora, mas sem exercer influência sobre a curva local na sessão desta terça-feira, os rendimentos dos Treasuries caíram de forma generalizada, com os investidores digerindo dados mistos do payroll. O principal relatório de mercado de trabalho dos Estados Unidos mostrou que foram criados 64 mil empregos em novembro, acima da mediana de 50 mil do Projeções Broadcast. Em outubro, porém, foram cortadas 105 mil vagas, e houve revisões para baixo nas leituras de setembro e agosto.

"O relatório de emprego de novembro indica que o mercado de trabalho dos Estados Unidos permanece resiliente, mas começa a mostrar sinais de enfraquecimento", avalia Luis G. Ferreira, CIO do EFG Asset Management para as Américas. Como, em sua visão, o Federal Reserve (Fed) está dando mais peso ao emprego, em detrimento da inflação, ainda há espaço para continuidade da queda dos juros em 2026, avalia, com um corte de 0,25 ponto porcentual no primeiro semestre e outro de igual magnitude na segunda metade do ano.