O Legado do Sargento Sérgio Gogola: História, Serviço e Culto às Tradições na Polícia Militar de Santa Catarina

Com quase três décadas de serviço, Sérgio Gogola revive memórias marcantes, lições de vida e seu legado de respeito à farda no 3º BPM.

Por Capitão Diego Gudas

Sergio Gogola entregando o brasão ao 3ºBPM. Outubro de 2024.

Dando continuidade à série de entrevistas com veteranos do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), o décimo primeiro entrevistado é Sérgio Gogola, um homem que dedicou 28 anos de sua vida à Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), construindo uma carreira marcada por desafios, histórias marcantes e uma grande paixão pela Corporação.


Sérgio nasceu e cresceu em Canoinhas, mas antes de ingressar na PMSC, passou um período servindo no Exército Brasileiro na cidade de Rio Negro/PR (5º Regimento de Carros de Combate - 5ºRCC). Ele ingressou no Exército em 1985, onde permaneceu por seis meses, atuando como motorista, sua qualificação militar (QM).

 


Em 1986, seu irmão, Feles Gogola, já servia na Polícia Militar e o incentivou a seguir a mesma carreira. “Na época, minha intenção era sair do Exército e virar caminhoneiro, pois já tinha a CNH na categoria ‘C’”, relembra Sérgio. No entanto, o incentivo de seu irmão fez com que ele mudasse de planos, decidindo prestar concurso para a PMSC, atraído pelo bom salário da época, que variava entre 10 a 12 salários mínimos.
Sérgio foi aprovado no concurso e ingressou na PMSC em 11 de agosto de 1986. Durante seu curso de formação, um de seus instrutores foi o Subtenente Rubens Graciliano de Araújo (o primeiro veterano entrevistado nesta série), que, segundo ele, foi uma grande inspiração, especialmente pelo modo cortês com que tratava os alunos soldados. “Ele tinha um jeito muito especial de tratar os alunos, sempre muito educado e respeitoso”, comenta Sérgio, relembrando o impacto que Rubens teve em sua formação.

 

 

O teste físico do concurso foi realizado no estádio Ditão, em Canoinhas, uma vez que, naquele período, o campo de futebol do 3º BPM estava em construção. O comandante do batalhão à época era o Tenente-Coronel Silvestre Olegário dos Anjos. Após se formar, foi lotado na sede do 3º BPM, onde exerceu toda a sua trajetória profissional com algumas missões esporádicas desempenhadas em outros lugares.


Entre os anos de 1989 a 1994, aproximadamente, Sérgio patrulhou o distrito de São Cristóvão em Três Barras, região que ainda contava com um posto policial na entrada da rua José Nunes Cavalheiro, onde hoje fica o posto de saúde do bairro. Na época, a viatura utilizada pela guarnição era um Fiat 147, e entre os colegas que trabalhavam com Sérgio estavam os Soldados Borges (Borjão), Schiessl (Xixão), Barrabacha, Sílvio Leônidas Posonski, Valdir Marques, Schupel, Oliveira, Camargo, Dirceu Trisnoski, entre outros.


Durante esse período, Sérgio viveu diversas experiências marcantes. Ele relembra com humor uma história engraçada. Em uma operação às margens do trilho de trem, no distrito de Marcílio Dias, Sérgio perdeu uma algema. Naquela época, a praxe era apurar o incidente por meio de uma sindicância e pagar em dobro o material perdido.
Para sua surpresa, dias depois, um rapaz chegou ao posto policial pedindo uma chave de algema emprestada. O motivo? Ele havia encontrado uma algema às margens dos trilhos, a qual, ao tentar colocar na mão de sua mãe, ficou presa. “A algema estava girando livre, então ele achou que estava quebrada, mas ao colocar nela, percebeu que a mãe não conseguia se soltar. Foi um susto e, ao mesmo tempo, um alívio!” – conta Sérgio, entre risos.
Outro momento marcante na carreira de Sérgio foi quando atendeu uma ocorrência de esfaqueamento envolvendo o irmão do policial Valdir Marques. “Ele estava muito machucado, com ossos do rosto e do braço expostos. Foi um momento difícil, e eu pensei: ‘vou fazer de tudo para ajudar e para que ele não morra nos meus braços’”, relembra com emoção. Naquela época, o Corpo de Bombeiros estava começando a operar, e as viaturas policiais frequentemente prestavam apoio à comunidade. Sérgio conseguiu levar a vítima ao hospital e acredita que, até hoje, ela ainda esteja viva.


Ficou também marcada na memória de Sérgio uma ocorrência de auxílio a parturiente. “Estávamos no Alto do Mussi, com um preso, quando o Copom mandou deslocar com urgência até a rua Santo Antônio, no São Cristóvão. Chegando ao local, uma mulher grávida nos pediu ajuda porque estava prestes a dar à luz. A guarnição decidiu levá-la para o hospital, mas no caminho ela teve um ataque de epilepsia. Mesmo com o sufoco, conseguimos transportá-la até o hospital, onde ela teve o bebê, e ambos ficaram bem.”


Em meio à sua trajetória, Sérgio vivenciou fatos de destaque para a história do 3ºBPM. Nas décadas de 1980 e 1990, tornaram-se tradicionais as festas juninas no batalhão. “A festa junina do batalhão era uma das maiores da região. Muita gente vinha prestigiar, pois era aberta ao público. As festas eram realizadas nas dependências do batalhão. A quadra de esportes, onde atualmente é o fórum, era enfeitada com bandeirinhas e havia brincadeiras típicas”. Todos os participantes absorviam o espírito junino. Os policiais fantasiavam-se, “tinha casamento caipira e até a banda do batalhão fazia apresentações trajada a caráter”.



Durante sua carreira, Sérgio também demonstrou um forte zelo com os símbolos e tradições da Polícia Militar de Santa Catarina. Um gesto que reflete esse compromisso ocorreu no início de 2000, quando o 3º Batalhão passou por obras de restauração após o desabamento do telhado. O brasão que decorava a fachada do quartel, desde sua inauguração em 1952, foi retirado e seria descartado como entulho. Sergio Gogola, na época ainda em serviço ativo, guardou-o.


Em 2024, ao ouvir um programa de rádio que versava sobre o resgate histórico do 3ºBPM, Sérgio decidiu trazer novamente o brasão à unidade, realizando a doação ao 3º BPM em 26 de setembro de 2024. O brasão, após restaurado, integrará o acervo histórico do memorial do 3º BPM, simbolizando o civismo e o culto às tradições que marcaram a trajetória de Sérgio como policial militar.
Com mais de 28 anos de efetivo serviço, Sérgio Gogola foi para a reserva remunerada em setembro de 2014. Sua trajetória exemplifica a dedicação e o amor à Polícia Militar de Santa Catarina. Ele continua a ser uma referência para seus colegas e para as gerações mais jovens de policiais, sempre lembrando que a verdadeira missão de um policial vai além da farda e das operações, tocando vidas e fazendo a diferença na comunidade.