O futuro do agronegócio do Planalto Norte diante das mudanças climáticas
Estiagens prolongadas, chuvas intensas e novas pragas já afetam a agricultura do Planalto Norte, exigindo inovação e políticas públicas para garantir a produção.
As mudanças climáticas e seus efeitos nas lavouras do Planalto Norte não são mais uma previsão futura: já estão em curso e transformam a rotina de milhares de agricultores.
A região, que concentra cadeias produtivas estratégicas de milho, soja, fumo, erva-mate, leite e silvicultura, sente o impacto direto da instabilidade climática. De acordo com a Epagri/Ciram
, nos últimos dez anos Santa Catarina registrou mais de 30 eventos de estiagem significativa, intercalados com episódios de chuva intensa que causaram erosão, deslizamentos e atraso no calendário agrícola.
Estiagem: perdas recorrentes e custos elevados
A estiagem é, talvez, o maior desafio para o Planalto Norte. Em 2024, municípios como Canoinhas, Mafra e Major Vieira registraram perdas acima de 30% em áreas de milho e soja, segundo estimativas da Epagri. Esse cenário pressiona especialmente a pecuária leiteira, que depende do milho e da pastagem.
O problema não se restringe à produtividade: com menor oferta, o custo dos insumos sobe, o que compromete também a renda das pequenas propriedades. Muitos agricultores relatam a necessidade de vender animais ou reduzir a produção de leite para equilibrar as contas durante os períodos de seca.
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Chuvas intensas: do excesso de água à dificuldade logística
Se a seca compromete o plantio, as chuvas intensas e concentradas também trazem estragos. Estudos do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) indicam que o regime de chuvas em SC tem mostrado picos mais extremos e menos distribuídos ao longo do ano.
Para o campo, isso significa:
Erosão do solo e perda de nutrientes;
Atraso na colheita, especialmente de soja e feijão;
Problemas de armazenamento, já que a colheita úmida compromete a qualidade;
Dificuldade no transporte, com estradas rurais intransitáveis em dias de temporal.
Esse cenário evidencia uma contradição: falta e excesso de água convivem no mesmo território, exigindo sistemas mais eficientes de gestão hídrica.
Novas pragas e doenças: ferrugem asiática e lagartas em expansão
O clima mais quente e úmido favorece o surgimento e a propagação de pragas. A ferrugem asiática da soja, considerada a doença mais destrutiva da cultura, tem exigido uso crescente de defensivos e respeito rigoroso ao vazio sanitário, imposto pela Cidasc
para reduzir a sobrevivência do fungo.
Além disso, agricultores relatam aumento de lagartas e percevejos nas lavouras de soja e milho, forçando gastos extras com manejo químico. O problema é que, muitas vezes, os preços pagos ao produtor não compensam os custos adicionais com defensivos e tecnologia.
O peso da silvicultura no contexto climático
O setor florestal é um dos pilares econômicos do Planalto Norte. Cidades como Três Barras e Canoinhas são referências na produção de pinus e eucalipto, matérias-primas para celulose, papel e madeira serrada.
Embora a silvicultura seja considerada uma atividade com potencial de sequestro de carbono, ela também enfrenta desafios climáticos: a escassez hídrica afeta o crescimento das árvores jovens e aumenta o risco de incêndios florestais, que já foram registrados em anos recentes no Norte de SC.
Estratégias em andamento e caminhos necessários
Diante desse cenário, agricultores têm buscado alternativas:
Sistemas de irrigação e construção de açudes comunitários;
Plantio direto e rotação de culturas, para reduzir a erosão e manter a fertilidade do solo;
Diversificação produtiva, com aposta em erva-mate, apicultura e hortifruticultura;
Variedades adaptadas ao estresse hídrico, desenvolvidas por programas de pesquisa da Epagri.
No entanto, especialistas alertam que essas soluções pontuais precisam vir acompanhadas de políticas públicas mais robustas, como crédito facilitado para irrigação, subsídio a seguros agrícolas e investimentos em infraestrutura hídrica.
O futuro do agronegócio no Planalto Norte
O Planalto Norte já mostrou resiliência em crises passadas, mas os efeitos das mudanças climáticas tendem a se intensificar. A adoção de tecnologias de monitoramento climático, a cooperação entre produtores e cooperativas e a integração com cadeias sustentáveis serão fundamentais para manter a competitividade.
Sem adaptação, o risco é claro: perda de produtividade, êxodo rural e maior dependência de importações. Com planejamento, porém, o Planalto Norte pode se tornar referência em agricultura adaptada ao novo clima, conciliando produção, preservação ambiental e qualidade de vida no campo.