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No dia dos motoristas, classe pede melhores estradas

Vias precárias e longas jornadas resultam em acidentes que consomem anualmente R$ 7,7 bi

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Há 25 anos literalmente na estrada, trabalhando como motorista, Antenor Gonçalves, 49 anos, admite que embora goste da relativa liberdade da profissão, se tiver outra opção vai sair dessa vida. “Gosto do que faço, mas que não dá dinheiro, não dá”. Antenor mora em Canoinhas há cinco anos e diz isso prestes a embarcar para São Paulo, onde vai entregar uma carga de portas. Pelo trabalho, que deve consumir pelo menos uma semana, deve receber R$ 300. Se tiver sorte deve trazer outra carga e pelo transporte receber mais R$ 90. Antenor pertence a classe menos valorizada dos motoristas – a dos contratados por empresas de frota. O caminhão que dirige não é dele e além de receber somente comissão, precisa arcar com despesas como alimentação e eventuais multas de trânsito. Sem contar que o dinheiro vem somente quando tem trabalho. “Estava há 16 dias sem carga até que apareceu essa, aí você tem um ideia do que sobre no fim do mês”, reclama Antenor , que apesar das dificuldades, criou cinco filhos labutando na boleia.
 
PASSADO PROMISSOR, FUTURO NEM TANTO
 
Adecir e Gustavo Brustolin não têm em comum somente o fato de serem tio e sobrinho respectivamente. A exemplo do pai de Gustavo, os dois são motoristas de caminhão, mas não são sócios, cada um tem seu próprio ganha-pão. Nos últimos anos assumiram um desafio e tanto – transportar madeira de Juara, no Mato Grosso, para a empresa Fuck, de Canoinhas, por mais de 2,5 mil quilômetros numa cansativa viagem que pega um bom trecho de estrada de chão batido. “Quando chove tem de ir mais devagar”, conta Gustavo que já se acostumou com os imprevistos da viagem que leva em média uma semana para ser feita. Entre idas e vindas, os dois passam duas semanas direto na estrada. Estrada, aliás, é a maior reclamação dos dois. “O Governo tinha que olhar para as estradas ”, interpela Adecir, para quem no passado as coisas eram melhores, ganhava-se mais dinheiro com fretes. “Hoje tem muita despesa”. Além das despesas de manutenção, Adecir paga quase R$ 20 mil por ano para o seguro de seu caminhão bitrem.
Gustavo herdou o caminhão do pai, que quando soube que o filho queria seguir sua profissão, o mandou estudar. “Ele não queria, mas fazer o que, no sangue ”. Hoje com 29 anos, desde os 16 anos Gustavo viajava com o pai.
Como são donos de seus caminhões, Adecir e Gustavo estão numa posição melhor que Antenor, mas mesmo assim passam longe de uma ‘folga financeira’. “Não enriqueci, mas tem coisas mais importantes na vida”, testemunha Gustavo que apesar de tudo, admite que com seu Ensino Médio completo dificilmente ganharia em outro emprego o que ganha hoje na estrada.
 
NOVOS DESAFIOS
 
A primeira vítima fatal da gripe suína no Brasil foi um caminhoneiro do Rio Grande do Sul que havia estado na Argentina. Logo, imagina-se o que Anderson Rosa teve de ouvir por ter como principal destino o país hermano. Morador de Barracão-PR, na divisa com a Argentina, Anderson esteve em Canoinhas na terça-feira, 21, para puxar uma carga destinada a Argentina. “A gente fica com receio, mas tem que trabalhar”, diz se referindo ao risco de ser contaminado pelo vírus da gripe suína. “Tenho um compadre que pegou (o vírus), a Vigilância Sanitária mandou ele ficar 15 dias em casa, e ele melhorou”, conta.
Como motorista, no entanto, não é a gripe que preocupa Anderson. Uma de suas maiores preocupações teve fim recentemente, quando depois de anos terminou de pagar o financiamento do caminhão. Calcula levar mais cinco anos para ser ressarcido do valor. Nestes anos de sufoco, pontuado por muita economia para pagar o ganha-pão, o caminhoneiro virou madrugadas dirigindo e fez ‘viagens-relâmpago’ para garantir o dinheiro na data do vencimento.
Anderson engrossa o coro de que melhores estradas seria um presente perfeito para comemorar o dia do motorista. “Se a estrada não é ruim, é boa, mas tem de pagar pedágio”, argumenta.
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