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O fim do provão

Até o momento o que parece é que o crescimento é prioridade e os interesses do acadêmico ficam em segundo plano

 

 

O Ministério da Educação e Cultura pretende acabar com o modo padrão utilizado atualmente para avaliar o ensino superior no Brasil. O famoso provão não acabará, mas um novo método de avaliação deve entrar em prática. Pelo novo método, apenas um número restrito de acadêmicos seria designado por meio de sorteio para se submeterem a um teste com perguntas ligadas a área de conhecimento do curso. Baseado no conhecimento demonstrado por esses acadêmicos é que seriam emitidos conceitos sobre o curso.

Se esse é o melhor método para se avaliar o ensino superior, é questionável, mas o que deve ser analisado, foram as mudanças que levaram a digamos, ?popularização? do ensino no Brasil. Com a popularização do ensino superior, promovida pelos governos militares da década de 70 e perpetuado com empenho pelo governo Fernando Henrique, permitiu que faculdades implantassem cursos para que pouco antes da primeira turma se formar, técnicos do MEC avaliassem se o curso merece aprovação ou deve ser desabilitado, abriu um verdadeiro mercado livre do ensino no Brasil. Que a educação virou comércio, sabíamos há anos, e a lei criada no governo FHC veio para perpetuar essa realidade que tornou inúmeras faculdades sinônimas de palácios ocos. Palácios por se formarem em grandes conglomerados de núcleos e prédios, e ocos por muitas, oferecerem cursos com pouca estrutura, professores de formação duvidosa e pouca assiduidade de aulas. Isso gerou, nos últimos anos, o fechamento de dezenas de cursos e faculdades. Quem perde com isso, sem dúvida, e exclusivamente, é o cliente/acadêmico, que precisa passar quatro anos nos bancos de uma sala de aula para que o MEC decida que o seu curso não está funcionando em conformidade com a educação, que parece ter perdido a identidade no Brasil. Não se trata de questionarmos se o provão, em suas duas versões, é ou não justo, trata-se de questionarmos se o governo está mais preocupado com o crescimento das universidades brasileiras ou com a qualidade de ensino. Até o momento o que parece é que o crescimento é prioridade, os interesses do acadêmico ficam em segundo plano, quando o MEC espera que a faculdade implante o curso para depois avaliar. É como se o Ministério da Saúde permitisse que um alimento de qualidade duvidosa fosse comercializado, para, depois que alguém provasse, a sua qualidade fosse avaliada.

É preciso repensarmos o ensino superior no Brasil, não para reformular o provão, que sempre foi sinônimo de polêmica, mas sim, para reeditarmos o debate sobre a legitimidade de um sistema que permite a criação de cursos a esmo, com o objetivo financeiro falando mais alto que os interesses acadêmicos e a criação de dispositivos que defendam o acadêmico que ingressa na primeira turma de determinado curso. Do contrário, promove-se o ensino com a comodidade que o desleixo pode proporcionar e com a dor de cabeça de se formar com a sensação de não se ter aprendido nada ou pior: em um curso que o MEC desabilite.

 

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